sábado, 26 de novembro de 2011

Para ele eu era uma estrela e ele o grão de areia...................

Minha história é antiga,mas devo contá-la se eu fosse detalhar ela viraria um livro,portanto vou resumir.
Eu era filha única de um casal de fazendeiros,tanto minha mãe quanto meu pai eram herdeiros de família tradicionais.Me tratavam como um bebelô,consequentemente eu era propriedade deles também,me colo-
cavam onde queriam e já previam meu futuro pois estava tudo arranjado.Eu já tinha isso em mente e era resignada.
Eu era uma mocinha muito dada,amava a todos sem diferença,desde a pessoa que ocupava o menor cargo 
na fazenda ao mais alto.Todos eram pessoas queridas, trabalhadoras e mereciam respeito. Eles se esquiva-
vam pois tinham medo  de meus pais despedí-los só porque olharam para mim.Eu  me sentia tão mal com aquela situação,eu fazia de tudo para ganhar a amizade deles,eu sempre me senti tão só. Eu tinha uma von-
tade  de me  juntar á eles nas noites de luar quando formavam roda na colónia ,eram tão risonhos e felizes Sinceramente eu os invejava...A única amiguinha que consegui era a filha da cozinheira,ela sabia tudo de mim e me trazia notícias dos colonos,eu adorava ouví-las,eram fatos interessantes.Eu nem a escola ia,a professo- ra ia até minha casa todos os dias.Eu achava que tinha nascido em casa errada,não achava certo ser tratada tão diferente só porque tinha muito dinheiro. Por mim repartiria com todos ali para  ficarmos no mesmo patamar e poder conviver com aquela felicidade deles.
Um dia  fui lá  no terrerão onde seleccionavam  os cereais, socavam arroz no pilão,faziam um monte de coisa, lidavam com o amendoim,café ,feijão eu não entendia nada mas achava tão bonito aquele monte de
gente feliz,conversando e cada qual com sua tarefa,essa imagem trago comigo até hoje muito viva..Numa
dessas idas ao terrerão algo me chamou a atenção,um rapazinho que tinha mais ou menos a minha idade sempre de  cabeça baixa em seus afazeres,mas que de vez enquando  eu me virava eu o surpreendia  me olhando por baixo do chapéu,uma só vez eu consegui ver seus olhos,fui mais rápida que ele,eram azuis
 anil,foi um relâmpago mas aquele olhar me fisgou.era lindo e triste.Ele não ousava me olhar diretamente
eu só vi porque olhei de repente.
Comecei a fazer perguntas á respeito dele para a minha única amiga e de confiança,ela dizia que era um
solitário,órfão de pai e mãe e foi criado por todos um pouquinho,a família dele era todos que o viram cres-
cer,todos o amavam.Eu penalizei cm aquela historia mas eu como "senhorita dos engenhos! nem poderia me
comover  e nem me aproximar daquela gente,todas  visitas as que eu fazia era escondido.
Um dia chegou em casa um casa de Barões e naquele tempo menores  mesmo sendo filho não poderia ouvir conversa de adultos. Eu era danada , me escondi e consegui ouvir um combinado  de casamento entre mim e o filho deles que eu nunca tinha visto.....e nem queria ver......naquela noite  foi  um tormento,eu rolava de um lado para o outro na cama, a lua estava clara e eu podia ouvir as risadas e as brincadeiras dos colonos felizes.Sabem ao que me atrevi? pulei a janela e fui lá perto deles,não tão perto,para não contrangír, eram  tímidos  diante de minha presença.Me encostei numa árvore e fiquei assistindo de longe,estavam até cantan- do, tocando viola,e sanfona,levei um susto quando olhei do lado e vi o tal olhos  azuis,sozinho afastado e de cabeça baixa,eu puxei prosa,ele só respondeu o que perguntei sem levantar os olhos.Naquele momento eu queria tanto um amigo,um assunto,até um abraço,estava muito triste com o que tinha ouvido lá em casa.Ele não me deu abertura para continuar então dei boa noite e me fui.
No dia seguinte meus pais vieram me falar do que eu já sabia,namorar e casar com o tal barãozinho para unir a riqueza,era o que eu pensava deles,tinha dó  do noivo também,ele estava no mesmo dilema ,coitado....
eu nem precisava conhecê-lo  para saber disso.E quem ousava desafiar os pais naquele tempo........enfim
eu o conheci, nada senti  e vi  nele a indiferença também.Os pais marcaram a data,e nos comunicaram éra-
mos completamente estranhos e continuávamos assim,dois infelizes.
Quando a notícia correu pela colónia minha amiguinha veio me contar,e  falou sem ligar um  assunto ao outro_olha sabe aquele moço filho de todos que te contei?ele anda tão triste e as vezes chora mas ninguém sabe o que tem......eu torci para ser eu motivo,eu já estava há muito tempo interessada nele,mas me calei,
ela não teve esta malícia mas eu tive,talves por ela achar impossível uma paixão com pessoas tão diferentes.
Os meses se passaram e a data marcada chegando,minha mãe preparando enxoval e eu nem me preocu-
pava com isso,gostava mesmo era de  pular a janela e assistir os violeiros e sanfoneiros e tentar ver  meus olhos azuis.
Uma certa manhã veio uma triste notícia,embora eu não amasse o tal prometido e o estimava muito,como
pessoa e era dele a notícia,estava com tuberculose estava num isolamento,era difícil essa tal doença na maior
parte das pessoas,orei por ele,eu não desejava nada de ruim,só não estava feliz e nem ele por termos que nos casar.
Dali uns dias ele se foi.tão jovem,um vida pela frente,eu senti muito,muito mesmo,fiquei com pena da fami-
lia e me enlutei também.
Passaram se uns meses lá vem outro casal cheio de fazendas conversar com meus pais á noite,eu já sabia
até o assunto nem fui ouvir.No dia seguinte meus pais me chamam para dar as boas novas,eu perdi a paciên-
cia ou educação não sei,só sei que pedi para que não me arranjassem casamento,e que eu não tinha inten-
ção de me casar......eles interpretaram como um luto, para mim era rebeldia mesmo,eu queria escolher um marido mesmo que fosse um mendigo mas e eu amasse e fosse amada.
O tempo passou,meu pai adoeceu e se foi ,ficamos só minha mãe e eu,sem falar na tristeza que ficou moran-
do lá em casa.Continuamos a vida normal,nada mudamos na questão dos empregados e modo e vida.
Um dia voltou minha rebeldia,andando pela fazenda topei  o  tal olhos azuis,sabe o que eu fiz?pedi ele em casamento,que louca......ele não sabia onde enfiar a cara,abaixou a cabeça e se foi pelo trilho do mato,eu corri atrás dele e falei que não estava brincando,falei do meu amor escondido todos aqueles anos,e que foi a primeira vista.Pela primeira vez ele me encarou....parece que ele ia explodir,falou sem ponto sem virgula o quanto era triste por me ver e nunca poder ter esperança para comigo,que ele era um grão de areia e sabia seu lugar por isso chorava sempre nas noites de lua cheia enquanto todos cantavam.............conclusão ele achava que jamais alcançaria a estrela ,a filha do patrão............Quanta  bobagem eu disse,quanto  tempo perdemos,você é um  homem  trabalhador,digno,  mesmo que minha mãe me deserte nós venceremos,eu luto com você...... 
E assim foi,falei com minha mãe contei tudo desde  o primeiro dia que o vi,...fiquei surpresa, ela falou que sempre o admirou por não ter tido família e ter dado um bom homem.Não sei se o sofrimento sem meu pai a fez ver um mundo diferente ou ela obedecia ordens feito eu,só sei que ela nos abençoou e estamos juntos há mais de cinquenta anos e contamos nossa histórias para filhos netos e bisnetos.A história do grão de areia e a estrela......







Autora :Annaterra