sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ele não sabia ainda o que era viver........

Vou contar como conheci um dos meus filhos.....Todas as noites era de costume,meu marido eu e minhas três crianças,irmos dar voltas de carro pelo centro da cidade. Numa destas noites,de muito frio por sinal
passávamos de frente a uma igreja bem central e tinha uma escadaria,algo cruel me chamou a atenção,me
chocou muito aquela imagem,chamei a atenção de meu marido......na escadaria estava sentada uma crian-
ça  que aparentemente não tinha mais que oito anos,sem uma blusa de frio,com um saco de papel  destes
que se embrulha pão,ele fechava a boca do saco de encontro com seu nariz,eu não entendi aquilo,eu não
compreendia aquela atitude,aí meu marido me explicou que era cola que cheirava.....se eu já estava cho-
cada piorou muito.Meu primeiro pensamento veio em levá-lo para casa,mas eu tinha um coração de mãe e
não usava a razão,esta era a opinião de meu marido.
Na noite seguinte fomos lá de novo,era bem tarde e lá estava ele na mesma situação.Naquela noite eu pen- sei muito naquele menino,quantas perguntas vieram em minha mente......dezenas.....meu sono foi atormenta-
do.
No dia seguinte algo me chamava para aquela imagem,eu fixei ela em minha mente,parecia que eu era a en-viada para salvá-lo.
Mais uma noite passamos por lá e aí até as crianças já estavam se comovendo e querendo dar um jeito de saber onde morava,com quem vivia.Eu sentia cada vez mais que éramos enviados para ajudá-lo.Eu sabia
a opinião formada que meu marido tinha a respeito a este assunto,temia a "má índole".......ia ser difícil acei-
tar qualquer atitude minha para me aproximar e nos envolver com aquela criança tão miúda  mas já no desca
minho.
Embora  fosse um homem caridoso ,tinha lá seus limites, ajudar sem se envolver, e ainda mais que nossos
meninos tinham quase a mesma idade.Mas eu continuava encasquetada com aquela criaturinha.
Pensei,pensei,dali alguns  dias fui só,joguei com o destino,se fosse meu problema eu iria encontrá-lo, e en-
contrei,no mesmo lugar com a mesma roupinha,eu me aproximei e perguntei porque fazia aquilo.,disse que
tirava a fome.....eu quis chorar mas aguentei firme,comprei-lhe um sanduiche e um suco e perguntei que se eu voltasse no outro dia durante a tarde ele me esperaria ,ele disse que sim,perguntei onde iria dormir e ele disse que seria debaixo das escadas,eu tinha levado uma coberta para ele.mas assim mesmo eu perguntei se a família não estaria a sua procura,ele era duro com as respostas e disse que talves eles nem soubessem de sua existência.........aquilo me partiu o coração ao meio,lógico que as palavras dele não eram exatamente estas mas resumindo era isso.
No dia seguinte á tarde fui lá,tudo isso escondido de meu marido,pedi para ele me levar onde morava,ele
me levou.....que lugar horrível e triste,não sei como ia parar na igreja que era muito afastada de seu mundo.
Levou-me a um barraco onde estava uma senhora de aparência boa e educada.Me contou a história dele
era seu sobrinho, órfão de pai,morto na cadeia e a mãe sumiu no mundo sem deixar rastros então ela foi
obrigada pelo juiz a pegar a guarda dele,mas não tinha como mantê-lo,não tinha saúde e nem dinheiro, e
até gostaria que alguém o adotasse para que ele tivesse um futuro melhor que os pais,disse que confiava em
seus ideais,disse que ele tinha sonhos e falava com ela  de se tornar isso ou aquilo mas sempre com boas intenções,mas ela não acreditava na vida......
Para encurtar porque foi longo o nosso caminho,convenci meu marido a trazê-lo mas com a promessa de que o colocaríamos num colégio interno porque ele dizia que era uma faca de dois gumes....foi num colégio
muito bom,particular onde ele tinha até acompanhamento psicológico era o que mais precisava,era um  me-
nino já destruído pela vida com tão pouca idade.Durante as férias vinha para casa e nos tornamos uma família maior,melhor  e com muito amor para dar a ele.
Anos se passaram as feridas foram curadas,deixamos seu dom responder o que queria da vida profissional
sempre se mostrou muito inteligente e estudioso,valeu muito a pena ficar com ele,nos sentíamos de alma lavada,e uma família abençoada.......
Temos hoje um advogado,um engenheiro,um professor e um médico.....este médico "ele."......o menino da
escadaria da igreja.....tenho certeza que foi plano de Deus toda esta tragetória.....com certeza ele cuidava
dele sozinho e nos colocou para ajudá-lo e ele nos ensinou tanta coisa....Só temos a agradecer,foi gratifican-
te em todos os sentidos.
Ele visita a tia,não esqueceu de suas raízes e soube agradecer a ela por ter realizado seus sonhos ,por ter
acreditado e tomado a atitude de deixar o destino agir......do jeito que ele vivia não tinha vida,era um vazio
e não se sentia vivo,isso são palavras dele hoje comum homem realizado e amando viver......... 










Autora:Annaterra


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