Conheci esta senhora,porque morávamos no mesmo terreno,era onde morava todos os trabalhadores da firma.Nossa casa era separada mas as outras eram como colônias,todas grudadinhas.A nossa era diferente porque meu pai chefiava a Companhia.A gente se dava bem com todos éramos uma família.Uma pessoa que me intrigava, era uma vizinha ,era calada,sua vida era muito discreta,a gente via que duas ou trés vezes por semana ele ia á cidade pagar contas ou fazer compras,mas o sacrifício era grande pois tinha uma criança de um ano,duas gemeas de dois e uma maiorzinha de quatro,na verdade tinha quatro bebês.
Nunca pedia ajuda á ninguém,ou levava todos,,colocando trés num carrinho o outro pegava em sua mão ou deixava dois dormindo.Isso era dedução minha .Eu estudava de manhã e tinha ás tardes livres,eu adorava aquelas crianças embora não tivesse contato.
Um dia fui xeretar,fui na cerca conversar com ela e me prontifiquei a cuidar dos bebes quando precisasse sair isto se ela confiasse.Ela muito tímida agradeceu e disse que aceitaria sim.Eu tinha muita pena dela,tinha um marido omisso,saia cedo e voltava a noite e não dava atenção para nenhum deles,eu era muito jovenzinha,mas escutava o zum zum da vizinhança,como todos trabalhavam juntos as coisas não passavam despercebidas.Bem colada na casa dela tinha uma senhora que aos olhos dos outros era muito bem casada e tinha um marido bom,respeitoso para com a gente e muito educado,diferente do marido da coitada empencada de filho que era cara feia e malicioso quando olhava para a gente.
Eu soube que esta mulher vizinha era caso do marido da coitada,acho que ela sabia por isso era triste e retraída....naquele tempo nada se podia fazer a não ser ignorar pois a mulher que separasse perdia os direitos e não ganhava ajuda do marido,como ela faria?era insuportável a situação mas era pior sem ele.A máquina de fazer filho era assim que ela era vista por ele,e a outra era para horas de lazer.
Aquela situação incomodava á todos mas ninguém poderia se envolver e principalmente abrir a boca,era muito perigoso o assunto.
Bom os anos foram se passando as crianças crescendo essa mulher continuava apática,ela não teve depressão não tinha tempo,era muito serviço,muita preocupação,sua mágoa ela curtia trabalhando dia e noite.
A Companhia fechou e todos se dispersaram,cada qual foi para um lado e eu sempre visitava minha protegida, eu só ia lá quando ele não estava,parece que depois que ele mudou de emprego ela ficou mais leve e solta,mais dada.Eu compreendia ela,embora nunca tocasse em assunto de vivência,mas nem precisava,tinha em mim o maior apreço,dizia que eu ajudei a criar seus filhos.
Quando essas crianças chegaram á adolescência praticamente todos juntos porque a diferença e idade era muito pequena,ele se tornaram meninos e meninas bem educadas e estudiosas,mesmo com o pai sempre ausente,mas a mãe sempre supriu esta ausência paternal.A vida caminhava mas de repente a notícia da morte do senhor cara feia.....enfarto fulminante.....sabe que ela não se descabelou?enfrentou tudo na boa,deu a impressão de que ela já não o considerava tão próximo,apenas o respeito por ser pai de seus filhos.Essa frase ela me confessou,então daí tive a certeza de que ela sempre soube e sofreu calada.Se ele ainda tinha caso com a outra a gente não sabia,mas só aqueles anos já foram suficiente paras ela perder o amor,por ele.Ela apenas o aturava e fazia seu papel de mãe.
Ele se foi ela ficou com a pensão a esta altura os meninos já trabalhavam e estudavam á noite.
O incrível é que todos tinham o mesmo dom,atualmente ele são sócios em uma firma de advocacia muito conceituada,todos são advogados,e cuidam dessa mãe como realmente ela merece.Hoje ela é muito feliz,está muito jovem ainda e sorridente,ela viu as glórias,sua vitória,a formatura dos quatro,ele não viu nada disso....acho até que ela se sentiu vingada,pois ele realmente não merecia aquela família tão bonita.
Uma mulher foi extraórdinária......e acreditou que a vida ainda ia florir ......
Autora:Annaterra
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