Sou tia numa escola de 1 à 8 série,é como me chamam mas meu cargo é zeladora,amo crianças,nunca ti-
ve pois nunca me casei mas este sonho fazia parte de mim.Presto muita atenção nelas,passou muitas por
aqui mas nenhuma me chamou mais atenção que esta que vou contar sua vidinha....
Desde o início do primeiro aninho eu a observava,percebi logo a diferença das outras,era como uma ostrinha,nunca se misturava,sempre só num canto,ela e seu "eu".....primeiro fui aos poucos me aproxi-
mando para ganhar sua confiança,aos poucos também ela foi cedendo dando sua amizade para mim,eu fui fazendo com que se enturmasse,arranjava amiguinhas e trazia até ela.Eu percebia em seu olhar per-
dido,muita tristeza,ás vezes ela me pedia para ficar um pouco com ela,perguntava se eu estava ocupada ou não para ficar ao seu lado.Aquilo me cortava o coração,pois percebi que estava lidando com um também coraçãozinho cortado,eu nem imaginava porque, mas a gente adquire uma certa experiência observando as crianças.........
Ela se tornou minha amiguinha e aos poucos foi confiando e respondendo minhas perguntas que fazia com muita sutileza..Descobri sua maior tristeza,sua mãe passou a morar no céu quando ela tinha cinco anos,assim ela se expressou.o pai era extremo e tinha prometido a viver para ela, mesmo que se um dia se casasse novamente.Ela me disse que compreendia a necessidade do pai se casar porque alguém precisava cuidar da casa e ela não sabia,era assim que ela me explicava,com postura de gente grande.
....era mesmo uma gracinha,eu tinha vontade de levá-la para casa.
Bem as coisas foram acontecendo muito rápido na vida desta criança,,todos os dias ela chegava e corria me encontrar e sempre tinha algo a me dizer,acho que ninguém em sua família parou para ouví-la...e ela tinha tanto a dizer.....O pai tornou a se casar mas disse a ela que nada ia mudar mesmo com a chegada de um novo bebê,a madrasta não era ruim,era uma pessoa normal até chegar o tal irmãozinho,
disse que a madrasta só sabia ditar ordens,feito olha seu irmão,ou faça isso ou aquilo,tinha acabado a amizade,o pai ficava fora o dia todo e não sabia destas atitudes e nem ela contava.Cada dia ela contava para mim um pedacinho,dizia que os avós paternos queriam adotá-la porque percebia seu dilema,mas o pai não deixava e ela ficava entre o pai e os avós,porque ela amava o pai e tinha todo carinho dele,mas ele não tinha muito tempo.
Poxa como os desabafos dela me incomodavam,eu ia para casa pensando num jeito de melhorar seu destino,as vezes eu perdia noite de sono pensando....
Um dia tomei uma decisão,pedi a ela que deixasse eu ir ver seu irmãozinho,mas na verdade eu queria pegar amizade do pai e da madrasta para ganhar a confiança deles.Pois é foram meses de conversa,de idas em sua casa até eu poder pedir se eles deixariam ela ir passar as tardes de domingo em minha casa.Eu consegui,seus olhinhos brilharam,eu tinha sobrinhas de sua idade e ela passava um domingo muito leve e diferente no modo de se comportar tão timidadamente,alí ela era outra criança.Parece que com o passar do tempo ela foi superando seus traumas e abraçando a vida.Eu estava feliz por ela e já estávamos juntas há quatro anos,não queria perdê-la de vista,e não perdi,acompanhei sua formatura da oitava série,ví seu sorriso,muitas e muitas vezes.Acho que acompanhei bem de perto até a idade em que ela ganhava autonomia de se defender da vida.
As vezes eu pensava que ela não surgiu por acaso em minha vida,poderia ser sua mãe zelando por ela e ela zelando por mim,pois a minha solidão foi preenchida com seus problemas.Eu a amava feito uma mãe........
Eu jamais poderia solucionar a falta da mãe,e os problemas que enfrentou depois de sua partida mas acho que ao menos consegui colocar um curativo em seu coraçãozinho partido........
Essa criança já está mocinha,é minha pupila,e eu sou para ela um porto seguro,caminhamos juntas para a vida.......Foi mútuo os curativos em nossos corações......
Autora:Annaterra