Eu AnnaTerra,no texto intitulado"o que eu escrevo" digo que as histórias são reais,ou me contam,ou eu assisti ou vivi.
Esta eu assisti e vivi.Uma senhora muito humilde era minha vizinha assim de quarteirão,ela lavava e passava roupas só para as mulheres que moravam na zona
do meretrício,mulheres bonitas,muito bem trajadas,e só vinham na cidade de táxi e só por muita necessidade,tinham muito respeito pelas pessoas e eram finas e educadas,discretas e de pouca prosa .
Uma destas senhoras era também freguesa desta lavadeira,o marido
da lavadeira era roçeiro e ia todos os dias ganhar o pão de cada dia numa carroça.
Bem voltando a tal freguesa,um dia ela apareceu com um bebê e deu para a lavadeira .Naquele tempo as coisas eram feitas no fio do bigode. Essa criança parecia um anjo,o casal o criou com todo amor,quando tinha uns dois aninhos já ia na carroça com pai para a roça, para a mãe poder lavar a roupa que não era pouca.Era uma criança super feliz,não faltava nada e nem sorrisos e amor.
Bem mais dois anos se passaram e até então a mãe legítima ma nunca tinha aparecido.
Um belo dia o casal foi chamado ao fórum,eu trabalhava lá,e vi tudo.O casal foi pego de surpresa,a mãe do menino"o anjinho"estava lá comum senhor japonês muito bem
apanhado e se dizia esposo dela.Eles vieram para buscar o menino de volta...A lavadeira usou todos os argumentos possíveis,na linguagem simples dela,para não devolver a criança,isto é seu filho amado.....Os coitados não tinham como pagar advogado e a outra por falta de um tinha dois, pois tinha ficado rica . Foi marcado uma audiência,e o casal estava sossegado,nunca pensaram na possibilidade de ter que entregar o anjinho .
O dia marcado chegou,e a responsável pelos menores na justiça disse que teria que levar o menino para o fórum porque dependendo do resultado ele já não voltaria.A mãe concordou,e foram....Depois de horas terminou a tal audiência ...a imagem foi muito deprimente..... a mulher responsável pelo menor ,estava com ele no colo na porta da sala onde foi o veredicto,saiu a meretriz e ela o entregou.....a criança gritava muito
pois nunca vira aquela mulher antes e nem ela também o vira,era apenas um ato vil,
não era amor,a lavadeira apoiada pelo marido se jogava no chão do fórum e querendo ao mesmo tempo correr atrás daquela mulher sem alma ,que levava seu anjinho embora.
A situação ficou tão crítica que prenderam a lavadeira no banheiro do fórum para conter os ânimos,os gritos dela ecoaram por aquele prédio afora,os funcionários saíram todos de seus lugares e foram ver o que se passava......era impossível não chorar....
O que fizeram com a criança e aquela senhora tao cheia de amor para dar....perdeu por
não ter posses,os gritos dela ficaram no ar,os berros do garoto foram para dentro de um carro chique, muito diferente da carrocinha do amado pai...ele partiu aos berros...A
humilde senhora teve que ser amparada para ir embora sem seu filho,ela não parou de gritar...não acreditava naquela justiça...que aliás, ninguém ali estava acreditando em ta-
manha maldade....impossível descrever esta cena sem derramar lágrimas no teclado mas sei que todos que estavam naquele dia nunca mais se esqueceu,e tenho certeza
de que principalmente o juiz da causa não se esquecerá jamais daqueles gritos tão doidos da humilde lavadeira e seu bebê.....Ele deve se acusar pelo resto de seus dias,
depois que viu o erro cometido....foi realmente um erro.
Ele viu que a criança não queria o carro chique,a carrocinha tinha o mundo dele o amor
que sempre conheceu,um pai e uma mãe presente.....
No dia seguinte só eu vi a sequência do assunto,lá se foi o senhor para a roça e um espaço vazio,seu rosto era marcado´pela tristeza e indignação,a lavadeira foi para seu tanque de cabeça baixa,nem cumprimentou os vizinhos era uma tristeza só,e com certeza tinha um só pensamento....o anjinho.
Nunca mais tivemos notícias dessa criança,ficou a saudade e a certeza de que a lei foi
muito cruel e injusta .
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